terça-feira, 20 de setembro de 2011

E AI??? - "Meninos que não queriam ser padres"

Antonio Silva virman36@hotmail.com para mim
(21/09/2011)

Antonio Saracura, bom dia.Desde que li a primeira referência sobre seu livro, senti um tremendo desejo de lê-lo. Assim que pude, comprei-o na Livraria Escariz do Shopping Jardins. E aí? Você vai saber a resposta no artigo que lhe envio anexo e que penso em publicar na Perfil. Por outro lado, como você fala em dias de tristeza, marasmo e indiferença, mando-lhe uma poesia sobre calundu, o qual  me acompanhou por muito tempo. E, apesar de você declarar que não consegue mais ler poesia, envio-lhe um soneto sobre a maior criação divina, a qual foi  a razão do nosso afastamento do seminário. Como só irei "ver avião" (ir a Aracaju) no próxmo mês, gostaria de saber como adquirir "Os Tabaréus do Sítio Saracura", pois estou certo de que passarei outros momentos muito agradáveis. Receba um abraço do Víman.



E  AÍ ?!!!

Foi o que me perguntei, ao levantar pela primeira vez para satisfazer uma necessidade fisiológica, depois de ler 190 páginas. E aí?!!! Não tenho nada mais importante para fazer? E os livros de autores famosos que me propus ler?!!! E o treinamento no computador, que teima em não querer falar minha linguagem?!!! A leitura da Bíblia e os cuidados com minha pequena horta doméstica?!!! Por que será que não consigo largar este livro?!!! Mais pareço um inseto em teia de aranha?!!!
Não podia mesmo largá-lo, porque me fazia reviver. Senti-me aos 14 anos, recordando momentos inesquecíveis, vividos no antigo Seminário de Aracaju. Saracura, autor de “Meninos que não queriam ser Padres” ainda encontrou lá muita gente com quem eu convivera.  São fotos vivas sua descrição do “Reitor Leão”, Pe. Pedro e Professor Alfeu com seu diapazão (“ele é muito engraçado, especialmente quando quer parecer sério”). Recordou-me pessoas caras, como Padre Artur e fatos como o jogo de espiribol, as memoráveis partidas de futebol contra o Salesiano, jogadas de batina, no que levávamos tremenda vantagem, - e nossa disputa contra os morcegos por causa dos sapotis, - como também as mangueiras de frutos deliciosos. Ele me fez voltar aos momentos difíceis, mas inesquecíveis da adolescência, na qual o calundu – uma espécie de depressão incipiente, costuma tomar conta do jovem pela incerteza do futuro. Relembrou-me expressões tão nossas, como invocar, ficar picado, receber portaria, jeito delicado e pinima. Desde o início, vi-me no autor: ele Tonho, eu Toinho, ambos do interior, viajando de “marinete”, bestificados na chegada a Aracaju ao ver os velhos casarões da Rua da Frente, a “imensidão” do rio Sergipe, os “carros de praça” e carregando a inconfundível malinha de couro curtido, na cabeça. Também sou do tempo do candeeiro a querosene, fiz exercícios escolares com “toco” de lápis e em papel pardo (de embrulho), morei em quartinho de vila e ia a pé para o Atheneu; tive minha Ana Isabel, na pessoa de uma fã do povoado Jabiberi, que se ofereceu até para beijar meu pé ferido (conseqüência da última partida de futebol no seminário); tremi na base, quando me senti atraído para a primeira abordagem amorosa, “sinto-me em paz”, quando sento ao birô, e continuo gostando de música, mas incapaz de aprender tocar um instrumento. Apesar das semelhanças tivemos algumas diferenças. Não sei quem era mais inocente, se eu ou o meu tempo. As irmãs dos colegas em visita e as meninas nas procissões não interferiram na minha decisão de abandonar o seminário. Apenas, “as filhas das famílias nas missas da capela”, onde eu entrava de cabeça baixa para rezar o terço, mas o perfume que envolvia o ambiente agredia suavemente minhas papilas olfativas, inundando a área das emoções, fazendo-me imaginar cada qual tão linda quanto perfumosa e levando-me ao êxtase do pecado, por pensamento. Nem mesmo o alto muro das lágrimas maternas impediu-me do descumprimento da promessa de celebrar uma missa para d. Nora de “seu” Zé Pequeno. Teria sido um bom padre, por certo, se pudesse associar o matrimônio ao sacerdócio. Também tive mais sorte que ele, pois meu diretor espiritual fora o educado e inteligente Pe. Luciano Duarte e meu reitor o compreensivo Pe. Espiridião Góis, que em carta, datada de 22 de fevereiro de 1952, para conforto de minha mãe, assegurava que “...do seminário saiu mais um ótimo cristão e um perfeito cidadão...” Por tão gratas recordações, aquela atração irresistível de continuar lendo, só me restando uma coisa a dizer ao final de tão reconfortante leitura: obrigado MESMO, Saracura!
VÍRMAN
Tobias Barreto/SE, 16.09.2011

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