quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O Sr. José Florindo de Lençois Paulistas fala do livro de Saracura

joseflorindo
Prezado Antonio Francisco de Jesus. Encontrei o seu belíssimo trabalho literá...
12:53 (1 hora atrás)
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Em 9 de novembro de 2011 12:53, joseflorindo <joseflorindo@uol.com.br> escreveu:

Prezado Antonio Francisco de Jesus.
Encontrei o seu belíssimo trabalho literário no grande acervo da
Biblioteca Municipal Orígenes Lessa de Lençóis Paulista e quero
parabenizá-lo pela escrita ágil e envolvente, só lamentei a ausência
do seu autógrafo no exemplar.

É melhor o mundo ganhar um bom cristão do que um padre ruim.
Obs:- Eu deposito todas as minhas dúvidas num bom cristão e num padre ruim,
         por sinal o padre Artur me causou estranheza....

Muito obrigado pelos bons momentos que o seu romance me proporcionou.


josé florindo coneglian 


Antonio Francisco de Jesus para joseflorindo

Caro José Florindo,

Que mãos abençoados doaram "Meninos que não queriam ser padres" à biblioteca de Lençóis Paulistas? Quase no outro lado do mundo (leia-se Brasil). Deus as abençoe! Senti uma alegria imensa por seu email dizendo que gostou do meu trabalho. É um grande incentivo  para um autor que nunca imaginou sequer benzer as fronteiras de Sergipe.  Deus o abençoe tb. Seu email vai direto para o www.meninosquenaoqueriamserpadres.blogspot.com
Obrigado por ter vindo de tão longe ao meu coração grato.
Saracura    

terça-feira, 20 de setembro de 2011

E AI??? - "Meninos que não queriam ser padres"

Antonio Silva virman36@hotmail.com para mim
(21/09/2011)

Antonio Saracura, bom dia.Desde que li a primeira referência sobre seu livro, senti um tremendo desejo de lê-lo. Assim que pude, comprei-o na Livraria Escariz do Shopping Jardins. E aí? Você vai saber a resposta no artigo que lhe envio anexo e que penso em publicar na Perfil. Por outro lado, como você fala em dias de tristeza, marasmo e indiferença, mando-lhe uma poesia sobre calundu, o qual  me acompanhou por muito tempo. E, apesar de você declarar que não consegue mais ler poesia, envio-lhe um soneto sobre a maior criação divina, a qual foi  a razão do nosso afastamento do seminário. Como só irei "ver avião" (ir a Aracaju) no próxmo mês, gostaria de saber como adquirir "Os Tabaréus do Sítio Saracura", pois estou certo de que passarei outros momentos muito agradáveis. Receba um abraço do Víman.



E  AÍ ?!!!

Foi o que me perguntei, ao levantar pela primeira vez para satisfazer uma necessidade fisiológica, depois de ler 190 páginas. E aí?!!! Não tenho nada mais importante para fazer? E os livros de autores famosos que me propus ler?!!! E o treinamento no computador, que teima em não querer falar minha linguagem?!!! A leitura da Bíblia e os cuidados com minha pequena horta doméstica?!!! Por que será que não consigo largar este livro?!!! Mais pareço um inseto em teia de aranha?!!!
Não podia mesmo largá-lo, porque me fazia reviver. Senti-me aos 14 anos, recordando momentos inesquecíveis, vividos no antigo Seminário de Aracaju. Saracura, autor de “Meninos que não queriam ser Padres” ainda encontrou lá muita gente com quem eu convivera.  São fotos vivas sua descrição do “Reitor Leão”, Pe. Pedro e Professor Alfeu com seu diapazão (“ele é muito engraçado, especialmente quando quer parecer sério”). Recordou-me pessoas caras, como Padre Artur e fatos como o jogo de espiribol, as memoráveis partidas de futebol contra o Salesiano, jogadas de batina, no que levávamos tremenda vantagem, - e nossa disputa contra os morcegos por causa dos sapotis, - como também as mangueiras de frutos deliciosos. Ele me fez voltar aos momentos difíceis, mas inesquecíveis da adolescência, na qual o calundu – uma espécie de depressão incipiente, costuma tomar conta do jovem pela incerteza do futuro. Relembrou-me expressões tão nossas, como invocar, ficar picado, receber portaria, jeito delicado e pinima. Desde o início, vi-me no autor: ele Tonho, eu Toinho, ambos do interior, viajando de “marinete”, bestificados na chegada a Aracaju ao ver os velhos casarões da Rua da Frente, a “imensidão” do rio Sergipe, os “carros de praça” e carregando a inconfundível malinha de couro curtido, na cabeça. Também sou do tempo do candeeiro a querosene, fiz exercícios escolares com “toco” de lápis e em papel pardo (de embrulho), morei em quartinho de vila e ia a pé para o Atheneu; tive minha Ana Isabel, na pessoa de uma fã do povoado Jabiberi, que se ofereceu até para beijar meu pé ferido (conseqüência da última partida de futebol no seminário); tremi na base, quando me senti atraído para a primeira abordagem amorosa, “sinto-me em paz”, quando sento ao birô, e continuo gostando de música, mas incapaz de aprender tocar um instrumento. Apesar das semelhanças tivemos algumas diferenças. Não sei quem era mais inocente, se eu ou o meu tempo. As irmãs dos colegas em visita e as meninas nas procissões não interferiram na minha decisão de abandonar o seminário. Apenas, “as filhas das famílias nas missas da capela”, onde eu entrava de cabeça baixa para rezar o terço, mas o perfume que envolvia o ambiente agredia suavemente minhas papilas olfativas, inundando a área das emoções, fazendo-me imaginar cada qual tão linda quanto perfumosa e levando-me ao êxtase do pecado, por pensamento. Nem mesmo o alto muro das lágrimas maternas impediu-me do descumprimento da promessa de celebrar uma missa para d. Nora de “seu” Zé Pequeno. Teria sido um bom padre, por certo, se pudesse associar o matrimônio ao sacerdócio. Também tive mais sorte que ele, pois meu diretor espiritual fora o educado e inteligente Pe. Luciano Duarte e meu reitor o compreensivo Pe. Espiridião Góis, que em carta, datada de 22 de fevereiro de 1952, para conforto de minha mãe, assegurava que “...do seminário saiu mais um ótimo cristão e um perfeito cidadão...” Por tão gratas recordações, aquela atração irresistível de continuar lendo, só me restando uma coisa a dizer ao final de tão reconfortante leitura: obrigado MESMO, Saracura!
VÍRMAN
Tobias Barreto/SE, 16.09.2011

terça-feira, 21 de junho de 2011

"Só sei escrever sobre coisas que conheço" (sobre o que vi e vivi e as adjacências)


Matéria publicada no Jornal Cinform
de Aracaju, edição 13 a 19/06/2011

Antônio Francisco de Jesus, escritor

TÍTULO:
"Só sei escrever sobre coisas que conheço"
(sobre o que vi e vivi e as adjacências  - permita-me agregar ao título este complemento)  


SUBTÍTULO:
Autor sergipano fala do entusiasmo de perpetuar as coisas do interior

Por Igor Matheus

"Havia imagens que me perseguiam a vida inteira. Eram lembranças em que eu tentava escapar do chicote, dos corriões do meu avô, de levar surras no sítio, das mandiocas entrançadas que tínhamos que limpar agachados. Se eu não escrevesse sobre isso algum dia, endoidava". O itabaianense Antônio Francisco de Jesus - ou Antônio Saracura, como também gosta de se denominar - não endoidou. Apenas se entregou àquilo para o qual pareceu ser predestinado a vida inteira: a perpetuação, pelas letras, de sua gente e de sua terra.
É o que está registrado em seu segundo trabalho como autor, 'Meninos que não queriam ser padres', lançado no começo deste mês. Segunda incursão de Antônio Francisco na literatura, a obra trata da saga de crianças e jovens absorvidos pelas exigências de um seminário, uma das pouquíssimas opções de se obter educação formal em uma época em que saber ler já era muito.
Autodeclarado preguiçoso para trabalhar na roça - pelo menos quando moleque - , onde se criou, Antônio Francisco trilhou diversos caminhos até se enxergar escritor. Formou-se em Economia em 1971, foi repórter e redator-chefe de antigos jornais da capital, fundou o Clube de Cinema de Sergipe e trabalhou em 'n' empresas pelo país. Depois de aposentado, se viu diante de uma pilha de lembranças que anotou pelo caminho. E tratou de compartilhá-las por meio do mais complexo, elaborado e pouco difundido estilo de redação que existe: o mais simples possível. Em entrevista para o Cinform, Antônio Saracura fala de sua obra, das intersecções dela com sua biografia e da atual literatura sergipana. Acompanhe.

Cinform - Que tipo de público o senhor pretende alcançar com 'Meninos que não queriam ser padres'?
Antônio Francisco de Jesus - Todos. Tanto ele quanto o meu primeiro livro, 'Os Tabaréus do Sítio Saracura', foram escritos em linguagem simples de propósito. Procurei usar o mínimo possível de palavras fora de circulação. E acho que é desse jeito que o livro vai cair no gosto das pessoas. São obras para quem gosta de costumes, para quem dá valor às coisas de Sergipe. Só que, ao mesmo tempo, não é uma obra bairrista. As histórias que conto nos dois livros poderiam ter acontecido em qualquer povoado do Brasil ou em qualquer seminário do mundo. Não abuso de linguagem regional. Minha linguagem é maneira. Em alguns casos, é inevitável usar termos da região. Mas fiz o possível para que uma pessoa de qualquer cultura lesse a história sem se sentir deslocada.

Cinform - O que está embutido na frase do título?
AFJ - Ali me refiro aos caprichos, às armadilhas, que fizeram com que diversos meninos fossem obrigados a prestar exame de admissão no seminário. Antigamente, o interior era cheio de gente querendo aprender a estudar, a ler, mas que não tinha condições de bancar o ensino. No livro, um dos moleques não passa no exame, mas acaba ficando no seminário como porteiro sob a condição de estudar para conseguir entrar no ginásio. Daqueles moleques todos, alguns queriam ser padres e estavam até imbuídos de vocação. Mas a maioria não tinha a menor ideia do que estava fazendo ali.

Cinform - O senhor passou por tudo isso?
AFJ - Sim. Passei seis anos no seminário menor. Fui porteiro, depois terminei o ginásio, fiz um ano de científico e em seguida saí. Na verdade esses meus dois livros, apesar de serem basicamente ficção, têm um pouco da minha vida. Cada frase registrada ali veio de alguma coisa que, de alguma forma, ouvi. Só sei escrever sobre as coisas que conheço. E no livro mostro parte dessa vida lá dentro, dos rigores da disciplina, dos métodos de lavagem cerebral. Mas tudo isso sem menosprezar e ridicularizar nada. Por sinal, acho que o seminário é uma instituição que merece respeito. Muitas pessoas ilustres de nossa sociedade vieram de lá. Também ofereço o livro aos 'meninos matutos que conseguiram estudar'. Porque eles também revolucionaram suas próprias famílias, fazendo com que irmãos e primos também quisessem se educar.

Cinform - E como começou esse interesse de retratar histórias de sua realidade?
AFJ - Foi mais ou menos em 2000, quando me aposentei. Minha mãe sempre teve uma memória fabulosa. E quando ela contava histórias de nossa família, eu anotava, fazia árvore genealógica, fazia tudo. Fui guardando e passei a me perguntar o que iria fazer com tudo aquilo. E decidi escrever para os outros. Primeiro fiz em formato de cordel. Nada pra vender por aí, mas apenas para distribuir entre os parentes. Só que aí começaram a dar palpites, a incentivar. Transformei em prosa, depurei, joguei fora uns pedaços, rasguei outros, terminei e comecei a ver que aquilo dava uma boa leitura. Pelo menos boa o suficiente para não envergonhar nem a mim mesmo nem à cultura sergipana. Até porque não escrevo pra obter louvores de ninguém. Apenas gosto de escrever com carinho e cuidado.

Cinform - Que autores o senhor tem como guia para exercer esse cuidado?
AFJ - Vários, uma miscelânea de escritores. José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, Guimarães Rosa. Daqui, Luiz Antônio Barreto, Vladimir Souza Carvalho, Chico Dantas. E muitos autores estrangeiros também. Li todos eles sem nenhuma obrigação, sem nenhuma incumbência relacionada. Não sou professor da área de Letras nem nada. Os li por prazer.

Cinform - Como o senhor avalia a relação entre a literatura que se produz em Sergipe e a disseminação dos valores e costumes locais? Esse elo ainda é forte?
AFJ - Não. E espero que meus livros despertem outros autores para esse lado. Há escritores aqui que publicaram livros há 20 anos e mesmo em plena forma intelectual não lançaram mais nenhum. Pararam no tempo dizendo que não há mais incentivo. Eu também não tive incentivo. Mas fui atrás. Negociei, pechinchei, recebi muitas negativas e consegui, mesmo tudo tendo saído do meu bolso. E posso dizer que minha dificuldade não foi nem escrever nem editar. Meu maior problema, até hoje, é distribuir. É fazer com que as pessoas tenham acesso à minha obra. 'Os Tabaréus do Sítio Saracura', por exemplo, ninguém sabia onde estava, pois era socado no subterrâneo das livrarias. E mesmo com toda a divulgação em rádios e jornais, muita gente ignora os lançamentos. Além disso, há outro problema: não há em Sergipe nenhuma editora que nos dissemine nacionalmente. O máximo que podemos fazer, hoje, é chegar à ponte do Rio Real. A não ser que alguém coloque o livro embaixo do braço e leve embora. Essas coisas podem até desestimular muitos escritores. Mas a mim, não.

Cinform - Apesar de ser ficção, sua obra também funciona como um exercício de resgate da memória interiorana. O senhor acha que Sergipe tem zelado por seu passado a contento?
AFJ - Graças às universidades, até que sim. Temos historiadores despontando em tudo quanto é interior. Em Itabaiana mesmo há quatro ou cinco estudiosos de escol escrevendo sobre a história do município. Não publicaram livros ainda, mas exibem seus trabalhos em artigos nos jornais locais. E não é só lá. Tem surgido livros sobre municípios Sergipe afora. Já estão surgindo várias coisas, e acho que também colaborei um pouco com isso.

Cinform - Depois de 'Meninos que não queriam ser padres', qual o seu próximo passo no ramo da literatura?
AFJ - Venci o prêmio Mario Cabral pela Secretaria de Estado da Cultura com um livro de crônicas chamado 'Minha Querida Aracaju Aflita'. Eles prometeram que a publicação sairia no ano passado, mas até agora não aconteceu nada. Então... estou no aguardo. O interessante é que quando você deve ao governo, ou você paga ou vai preso. Mas quando ele deve a você, não existe jeito de cobrar (risos).



domingo, 5 de junho de 2011

O LANÇAMENTO JÁ ACONTECEU NO DIA 02/06/2011





Festa bonita.Muita gente la. Intelectuais e leitores. Algumas surpresas maravilhosas.Mas também algumas ausências muito lamentadas. Nem tudo que a gente quer pode fazer/acontecer. Tanto serve para mim como para todo mundo.  


A seguir estou publicando o discurso (feito por escrito exatamente para possibilitar essa veiculação) no qual estendo a todos os meus leitores e amigos, os meus agradecimentos.






  
LANÇAMENTO DE “MENINOS QUE NÃO QUERIAM SER PADRES”


Antes de mais nada muito obrigado a todos que estão aqui e aos que queriam mas não puderam estar. Que Deus lhes dê o dobro de tudo bom que me desejam!

Publicar um livro dá algumas tristezas e muitas alegrias.  E até o momento de publicá-lo, dúvidas e medos. Digo por mim! 

1)      Sobre as Dúvidas e Medos
Passei minha vida inteira lendo livros por prazer. Saboreando sem nenhum compromisso de prestar conta a ninguém.  Comemorando com festas íntimas os bons e execrando  os ruins. Parando no meio de certos livros famosos, retirando-os do meu caminho definitivamente. Mas, por outro lado, faltando a compromissos, provocando filas na porta dos banheiros, sem poder me desligar de muitos outros, alguns deles sem fama nenhuma.
A vida estava boa assim.
Por que então publicar livros, quando apenas ler era prazer demais pra mim? Eis a primeira grande dúvida. Mas o meu anjo (demônio) da guarda sempre estava reacendendo os meus lampejos e repassando as imagens que me marcaram a vida toda.  E eram (e ainda são)  tantas imagens e lampejos que se eu não os contasse ficaria louco.  E se  morresse antes de contá-los, certamente não iria para o céu. Menosprezara dons raros dados a mim por Deus.  E já estava com 60 anos (hoje estou com 65)  e meu pai acabara de morrer dominado pelo mal de alzeimher.  Por esses medos é que tive que começar a escrever. E logo, antes que fosse tarde demais.

O medo de incomodar os nichos estabelecidos não é nada, diante do medo de morrer sem contar as minhas histórias, que são as de meus ancestrais, as de minha mãe Florita, que está ali sentadinha, aureolada por 90 anos de sabedoria e alegria, as de meus irmãos, as de minha esposa e filhos e de todas as pessoas com quem convivi a minha vinda toda. 

2)      Sobre minhas tristezas
A primeira tristeza é que, por mais esforço que faça, por mais que pesquise, o português que estudei e aprendi nunca me permite dizer o que sinto. E assim o texto escrito  tem apenas uma vaga aparência da imagem que gostaria de transmitir. Isso me dá um  triste sentimento de inutilidade.

A segunda tristeza é que, depois de ler o meu livro mil vezes, corrigir, ajustar, depurar cada frase, cada capítulo... ainda é publicado eivado de  falhas. Muitas dessas falhas passam até despercebidas do leitor apressado, mas nunca do autor do dia seguinte. E me atribulam, e me matam por dentro. Deixam-me  triste.

A terceira tristeza são os leitores. Eu sei que eles existem. Sergipe está cheio deles. O Brasil também. Mas nunca, por mais que apareça na mídia, por mais que grite pelas ruas, por mais que Ribeiro me ajude (obrigado Ribeiro), eles nunca  ficam sabendo do meu livro novo que acaba de sair.  Existem meios fantásticos de divulgar, como a internet, como toda a mídia, mas mesmo assim, em todo canto que vou, a maior parte das pessoas nunca ouviu falar nem “Os Tabaréus do Sítio Saracura”, um livro com três anos de idade.

3)      Sobre minhas alegrias
Como é gratificante ver vocês aqui agora, vieram para o lançamento de meu novo livro “Meninos que não queriam ser Padres”.  A minha luta está então começando a surtir efeito. Pessoas importantes da minha cidade, que eu não conseguiria falar com elas pessoalmente, estarão lendo o que escrevi, amanhã. Pessoas simples do povo, que gaguejam ainda na leitura, estarão saboreando meus textos que escrevi especialmente para elas.

O Sesc  ofereceu-me o espaço  e sua estrutura para receber os meus ilustres leitores. Se o fez, certamente é porque, como muitos outros órgãos e empresas da cidade, entende que a Cultura precisa de incentivos. E fico muito alegre, em nome da literatura de Sergipe, que precisa muito. Graças a vocês que vieram, graças ao SESC que nos acolhe com tanta distinção (obrigado Excelsa Machado e sua competente equipe), graças a imprensa que cobre esse evento, talvez os meus livros e todos os livros publicados possam ser conhecidos de todas as pessoas que leem.

A  maior alegria do autor (sempre falo por mim) é saber que está sendo lido e que sua obra agrada, tem utilidade. E como é  que o autor pode saber disso? 
Através de testemunhos de pessoas que se dispõem a dizer que leram e que valeu a pena.  Deus salve essas pessoas que tem coragem de falar bem!   

E agora eu me lembro do tempo em que fui crítico de cinema em Aracaju, nos idos de antigamente. Ao assistir a um filme bom, saía do cinema tão impregnado que abordava desconhecidos na Rua João Pessoa, dizendo-lhes que “fossem ao cinema, não perdessem o filme, que era bom demais”. Quantos me chamaram de louco, estupefatos diante da pureza de meu ato  espontâneo.

A  minha alegria  extrapola  qualquer medida quando as pessoas dizem coisas boas  como disseram, recentemente, três pessoas,  sobre meus livros. Falaram sobre a obra de um autor sem poder nenhum, um anônimo até ontem, de quem ninguém teria medo nem pena.  Daí (eu tenho certeza) que as pessoas falaram com o mesmo sentimento daquele  crítico de cinema do jornal “A Cruzada” de que falei há pouco. 

Escolhi apenas três dessas pessoas, pois acho que elas resumem o que disseram verbalmente e por escrito Ismael Pereira, Luiz Antônio Barreto, Clarêncio Martins Fontes, Luciano Correia, Riam Santos, Zé Carlos de tio Homero, Vladimir Souza Carvalho, Coroné Vevé, Vitor do povoado Guedes em Gracho Cardoso e muitos outros, alguns através de simples e magníficos torpedos telefônicos.

Todos me fizeram ter a certeza de que vencer as dúvidas e os medos e suportar as tristezas não foi nada diante da alegria inaudita de ouvir os seus vivas para minha singela canção.

A primeira pessoa é Cláudio Nunes, um blogueiro da Infonet que ainda não tive o prazer de conhecer pessoalmente, e que escreveu no dia 09/05/11:
...“Mais uma vez Saracura mostra toda sua veia literária com um jeito próprio de escrever suas peripécias e de vários colegas seminaristas. E por suas peripécias passam personagens reais e fictícios de um romance sensacional”.

A segunda pessoa é Vieira Neto, poeta e jornalista, que também ainda não tive o prazer de conhecer pessoalmente, e que escreveu no Jornal do Dia, em 10/05/2011:
...“Será preciso dizer mais? Basta acrescentar que “Meninos que não queriam ser padres”, assim como o livro anterior do mesmo autor, “Os Tabaréus do Sítio Saracura” (já recomendado aqui)  é construído de tal forma que o leitor se emociona da primeira à última página, quando Antônio Francisco cria um desfecho genial para sua exuberante narrativa”.

E por último, a escritora Chistina Cabral, que conheci nem tem dois meses ainda, numa sessão da Academia Sergipana de Letras (sempre que posso vou me ilustrar) e que está aqui nos honrando com sua presença nessa noite. Ela me endereçou uma carta,  que passo a ler (se me permitem):

“CARTA ABERTA AO ESCRITOR ANTÔNIO FRANCISCO DE JESUS

Querido amigo,

A literatura nos permite colecionar amigos no coração, mesmo sem conhecê-los ou ter com eles convívio.

Estes amigos nos tomam as mãos e nos levam ao imaginário. De mãos dadas permitem-nos percorrer seu encantador passado e invadir, com espanto e êxtase, o seu íntimo sadio e puro.  Refiro-me aos seus livros “Os Tabaréus do Sítio Saracura” e “Meninos que não queriam ser Padres”.

Monteiro Lobado com seu “Sítio do Pica-pau Amarelo”, lançou sua âncora amorosa e renovadora no Brasil e no Mundo. Abriu a imaginação para busca e exaltação do belo e, na sua riqueza de personalidades e temas nos permitiu, como você nos permite, integrar os nossos passados, viver com alegria ou emoção os nossos momentos, abraçar com ternura os nossos idos familiares ou amigos.

Você chegou de mala de cuia e tomou conta  do “pedaço”. Nós o seguimos Saracura, com ansiedade e curiosidade pelos momentos de calma e bom humor que nos proporciona e pelas andanças nos caminhos de nossa memória.

Christina Cabral.  Aracaju, 02/05/2011”

Só me resta dar Graças a Deus  e pedir para que Ele nos abençoe a todos, muito mais a vocês que já vieram me abençoar (e já me sinto muitas vezes abençoado), o que imensamente agradeço.
(tenho dito)

quinta-feira, 26 de maio de 2011

O TABARÉU E O SEMINÁRIO - por Vladimir Souza Carvalho






                                   O TABARÉU E O SEMINÁRIO


                                                           Vladimir Souza Carvalho, da Academia Sergipana de Letras
                                    
                                                               (O CORREIO DE SERGIPE DE 21 DE MAIO DE 2011 PUBLICOU)

A vida faz as suas. E não sem razão. Foi o que ocorreu com Antonio Francisco de Jesus, na sua primeira entrevista com o padre-reitor, no Seminário. Ele, autor de um verbo capaz de deixar qualquer camoniano de água na boca: truche (p. 21). Ele, de língua solta (na dicção de hoje, fofoqueiro): ... e o povo fala que é amigada com Zé Sacristão..., p. 24. Ele, que foi reprovado no exame de admissão.
Mas, foi justamente ele, com todos esses predicados, que o padre-reitor segurou no Seminário Arquidiocesano, como a pensar que, esse menino (tinha treze anos), autêntico tabaréu da Terra Vermelha, um dos condados da Itabaiana sempre grande, mais tarde, seria, como foi, o encarregado, pelo destino, de escrever alguma coisa sobre o Seminário, dentro da abordagem de sua vida.
Um pensamento bom (mais ainda, positivo) do padre-reitor de retê-lo no Seminário, naquele ano que se iniciava, em idos dos tempos do antigamente vivido. Acertou na mosca. Tivesse jogado na loteria federal, ficaria rico. Mas,  padre rico não tem graça: cadê a família, ou seja, os filhos, para gastar e esbanjar? Acertou o padre-reitor na decisão: o tabaréu da Terra Vermelha ficou, estudou, desistiu da batina (faltava-lhe vocação para o sacerdócio, e aliás, desde o início), deixou o Seminário no momento oportuno, sem perder os liames com a Igreja, e, ei-lo que, na condição de homem maduro, literalmente careca (não há de se melindrar com a proclamação, aliás, notória), traz à lume um outro livro – Meninos que  não queriam ser padres -, sob o subtítulo de romance, no qual rememora a sua trajetória no Seminário e, involuntariamente, atiça o olhar acerca de uma das facetas que mistura à história à sociologia, na focalização, ainda que de forma oblíqua, do papel, notoriamente válido, dos seminários na vida da meninada pobre de Itabaiana, durante décadas antes dele e de décadas depois dele.
Do estilo leve, a leitura fluindo saborosa, do domínio do discurso, da sedimentação de uma narrativa, muitas vezes, marcada pela emoção (caso da sua luta contra as ondas do mar na praia da Atalaia, em um dia fatídico), e de outras virtudes (a timidez para o namoro; para casar, depois, precisou que a futura sogra o contratasse para ser professor da filha, futura esposa), nada se surpreende. O autor, Antonio Francisco de Jesus, sofrendo da doença que denominaríamos de literatura reprimida, que só se cura com a produção e publicação, já demonstrou, ontem, que não é mero iniciante, mas o memorialista maduro – e não é para menos, pelo talento que a enxada quis engolir e pela experiência da leitura, que lhe brotou tão espontaneamente -, que tem um cabedal de fatos para narrar e sabe fazê-lo, transformando em realidade todo o passado vivido, com sacrifício do pai e seu próprio, inclusive o de dormir em cama incompleta, passado que, ao toque de suas palavras, se transforma em revelação surpreendente, capaz de prender o leitor do início ao final.  
   Se é verdade que, de onde menos se espera, é de onde sai o veneno, daquele tabaréu de treze anos, chegado ao Seminário da Rua Dom José Tomaz,  saiu, agora, entenda-se, não o veneno que mata, mas a leitura que recria a sua passagem pelo Seminário e um pouco da sua história, para o deleite, seja  de quem já o conhece, seja de quem dele, autor, nunca ouviu falar.
Meninos que não queriam ser padres se une ao anterior e inicial Os tabaréus do sitio Saracura, na sequência histórica de sua vida, na demonstração de que talento não falta a Antonio Francisco de Jesus. E salve o Seminário que lhe despertou, embora escondida, a sede da leitura e das anotações. E viva Itabaiana, que eu não poderia deixar de fora, por lhe ter parido para Sergipe e para as letras. E saúde para mim que sempre acreditei que naquele mato tinha coelho.   

quarta-feira, 25 de maio de 2011

A Memória e a História - por Luiz Antônio Barreto

A Memória e a História
(O exemplo de Itabaiana)





Itabaiana guarda rica memória, capitaneada pelo mito da riqueza que havia em sua grande serra, alimentada pelos currais que estão na base da pecuária sergipana, e por outras singularidades, ainda hoje notáveis, como o fabrico e a comercialização de jóias e bijuterias, sem falar da vocação do povo para atividades econômicas, como são exemplo empresários vitoriosos em seus negócios, enriquecidos pelo trabalho. A idéia, circulante no Brasil e em parte do mundo, levou a criação do Regimento Geral das Minas do Brasil, confiado ao experiente Dom Rodrigo Castelo Branco, que morou cerca de quatro anos em Itabaiana. Os currais de gado fascinaram os holandeses, como a notícia das minas. A comercialização, a partir das feiras nos diversos povoamentos da região, responde pelo sucesso de homens como Oviêdo Teixeira, os irmãos Paes Mendonça – Pedro, Mamede e Euclides – Albino Silva da Fonseca, José Silva, José Cunha, e outros.

Vez por outra, no contraponto do cotidiano político, surgem movimentos que põem Itabaiana em destaque. A força eleitoral dos itabaianenses tem garantido assentos no Senado – Passos Porto, Albino Silva – na Câmara Federal – Airton Teles, Euclides Paes Mendonça, José Carlos Teixeira, José Carlos Machado, José Queiroz, José Teles – na Assembléia Legislativa – Sílvio Teixeira, Oviêdo Teixeira, os irmãos José, Antonio e Maria Mendonça, Arnaldo Bispo -, dentre outros que cumpriram mandatos, representando, nos diversos partidos e pleitos eleitorais, a massa de votantes, radicalizada em disputas que marcaram a história política do Estado. A fundação do jornal O Serrano, por exemplo, serviu à organização de um movimento em defesa de Itabaiana, politizando a população mais jovem, legando ao município uma corrente nova de pensamento e de prática, de grande efeito.

Sob o ponto de vista cultural, convém registrar os nomes de Francisco Carvalho Lima Júnior, Sebrão, sobrinho, Alberto Carvalho, Antonio Oliveira, Vladimir Souza Carvalho, dentre outros, que lançaram obras importantes, que projetaram a terra e a sociedade itabaianense. Evidente é que era, então, e assim permaneceu por décadas, muito lenta a discussão cultural, em decorrência, certamente, da distribuição da população, que mantinha dois terços dela no campo e apenas um terço na zona urbana. Ainda assim, ampliou-se em muito a presença de jovens de Itabaiana nas salas de aulas da Universidade e das escolas superiores. O Colégio Murilo Braga, criado no final dos anos 1940 pelo governador José Rollemberg Leite, manteve-se responsável pela preparação dos jovens, prestando relevantes serviços.

É nesse ambiente acadêmico, que surge uma geração de pesquisadores, seguindo as picadas abertas por Vladimir Souza Carvalho, historiador por excelência, com obra de ficção que aumenta seu prestígio e reconhecimento. Nomes como os de Almeida, talvez o mais velho do grupo, José Augusto Machado, autor de um livro de “causos”, Vanderley, Robério, Riva, revolvem a poeira dos documentos e organizam uma base de dados da maior e melhor qualidade, para servir à compreensão dos fatos da história local. A eles se soma, o mesmo Vladimir Souza Carvalho, guia e mestre, cuja obra publicada é de porte essencial para Itabaiana e para Sergipe. Pelo menos mais dois nomes, de professores da UFS, Lindivaldo e Giliard, elevam o nível do fazer cultural serrano, que conta, ainda, com a interlocução de Antonio Samarone, também da terra, doublé de pesquisador e de político, cuja alma itabaianense exalta a cidadania.
Outro nome, do mesmo naipe, chama a atenção dos leitores  para a sua obra, representada hoje por dois títulos bem recebidos pelos leitores: Os tabaréus do sítio Saracura e Meninos que não queriam ser padres, dois livros maduros, bem estruturados, em linguagem correta, que surpreende aos que têm oportunidade de leitura. Antonio Francisco de Jesus, economista de formação, jornalista experiente, crítico de cinema, revela-se ficcionista, tomando lembranças simples, recolhidas do dia a dia das casas de sua família e de seus amigos, e erguendo monumentos memoriais, que, no mínimo, são fontes da história. Os livros de Antonio Francisco dão dimensão de relevo ao esforço dos escritores itabaianenses, comprometidos com o viver local, seu humor, suas lembranças, guardadas ou anotadas por cada um, como se estivesse em curso um grande Anais, como espelho onde cada pessoa de Itabaiana pudesse buscar mais do que sua imagem, sua identidade.

Como ocorre com a literatura, a memória contribui para que a história faça a exegese dos fatos e das circunstâncias que explicam o comportamento humano. As literaturas dos povos guardam explicações preciosas, das quais os escritores se valem como verdadeiras fontes, inesgotáveis. Itabaiana, assim, sai na frente e toma a dianteira de um movimento revelador, a partir de pesquisas, documentos, ficção, que mais do que merecer a atenção do Estado e dos sergipanos, fixa uma atitude, que agrega pelo que oferece de compromisso em busca da identidade.
 Publicado no Jornal do Dia, de Aracaju/Sergipe, em 22/05/20011)


O Tabaréu e o Seminário - Vladimir Souza Carvalho

(publicado no Correio de Sergipe, sábado, 21/05/2011)

texto digital ainda não disponibilizado no site do jornal (Solicitei ao autor via email

segunda-feira, 9 de maio de 2011

DOS TABARÉUS AOS MENINOS QUE NÃO QUERIAM SER PADRES

Dos tabaréus aos meninos que não queriam ser padres

(matéria publicada no Blog de Cláudio Nunes, WWW.infonet.com.br, em 09/05/2011)


Dos tabaréus aos meninos que não queriam ser padres I
Antônio Francisco de Jesus, ou simplesmente, Antônio Saracura, há pouco tempo brindou os sergipanos com o livro “Os tabaréus do Sitio Saracura”, onde contou histórias de Itabaiana.
Dos tabaréus aos meninos que não queriam ser padres II
E quando se pensava que ele tinha esgotado todas suas histórias de vida ele retorna, com mais força, mostrando que é uma revelação da literatura sergipana, com o livro “Meninos que não queriam ser Padres”. Mais uma vez conta sua história de vida, no romance onde mistura nomes fictícios com nomes verdadeiros e fatos quase todos reais com algumas fantasias da juventude.
Dos tabaréus aos meninos que não queriam ser padres III
No livro ele conta parte de sua trajetória de vida, quando chegou a Aracaju e fez o exame de admissão para ingressar no Seminário Arquidiocesano. Mais uma vez Saracura mostra todo sua veia literária com um jeito próprio de escrever suas peripécias e de vários colegas seminaristas. E por elas passam Zé Bigodinho, Zé Gordinho, Guiné,  Isis, Isaac, Antonio Rolinha e tantos personagens reais e fictícios de um romance sensacional.
Dos tabaréus aos meninos que não queriam ser padres IV
Uma coisa é certa: mais uma vez Antônio Saracura publica com seu relatos mais um importante documento para a história de Sergipe. De um período que passou no Seminário Arquidiocesano ao lado de vários outros colegas e professores que fizeram (e fazem) parte da história da construção do Sergipe que vivemos atualmente.
Lançamento
No próximo dia 02 de junho, no Sesc da rua Dom José Thomas, a partir das 19h, Antônio Saracura vai lançar o livro “Meninos que não queriam ser Padres”. Quem tiver o prazer de ler o livro vai comprovar tudo o que o titular deste espaço escreveu.

sábado, 7 de maio de 2011

Carta Aberta ao autor de "Meninos que não queriam ser Padres"


Querido amigo Antônio Francisco de Jesus,


A literatura nos permite colecionar amigos no coração, mesmo sem conhecê-los ou ter com eles convívio.

Estes amigos nos tomam as mãos e nos levam ao imaginário. De mãos dadas permitem-nos percorrer seu encantador passado e invadir, com espanto e êxtase, o seu íntimo sadio e puro.  Refiro-me aos seus livros “Os Tabaréus do Sítio Saracura” e “Meninos que não queriam ser Padres”.

Monteiro Lobado com seu “Sítio do Pica-pau Amarelo”, lançou sua âncora amorosa e renovadora no Brasil e no Mundo. Abriu a imaginação para busca e exaltação do belo e, na sua riqueza de personalidades e temas nos permitiu, como você nos permite, integrar os nossos passados, viver com alegria ou emoção os nossos momentos, abraçar com ternura os nossos idos familiares ou amigos.

Você chegou de mala de cuia e tomou conta  do “pedaço”. Nós o seguimos Saracura, com ansiedade e curiosidade pelos momentos de calma e bom humor que nos proporciona e pelas andanças nos caminhos de nossa memória.

Esperando que esta cara seja fiel aos meus sentimentos de carinho e admiração, envio-lhe meu abraço amigo.

Christina Cabral.  Aracaju, 02/05/2011”

***
Antônio Francisco de Jesus (Antônio Saracura), 65, jovem escritor sergipano, publicou “Os Tabaréus do Sítio Saracura” (2008,2010) e “Meninos que não queriam ser Padres” (2011) e tem  no prelo, “Minha Querida Aracaju Aflita” (Crônicas, prêmio Mário Cabral, da Secult 2010);

Christina Cabral é escritora, colaborou por seis anos para o Diário do Nordeste de Fortaleza, com Crônicas e histórias infantis. Fundou e presidiu a UBE-CE (União Brasileira de Escritores do Ceará). Em São Paulo (São Vicente) para onde se mudou, foi diretora do Instituto Histórico e Geográfico, quando criou o grupo literário COLMEIA LITERÁRIA. Publicou artigos no jornal do mesmo nome, que era distribuído gratuitamente para escolas e entidades literárias. Foi premiada pela  UBE-RJ como reveladora de novos talentos, e recebeu o prêmio na Academia Brasileira de Letras. Faz parte da Academia Portuguesa de Letras de novos autores, cadeira número 4, cujo patrono é Abílio Diniz. Atualmente é a patronesse da Colmeia Literária, em Aracaju, onde reside.

***

domingo, 1 de maio de 2011

Quem é o tabaréu “que não queria ser padre?”

(Matéria ainda não publicada)  

O “Jornal da Tarde”-  sempre chegando mais cedo - revela um pouco do escritor sergipano,  de Itabaiana, Antônio Francisco de Jesus (Antônio Saracura) que, depois do sucesso de “Os Tabaréus do Sítio Saracura”  aparece agora com “Meninos que não queriam ser Padres”, cujo lançamento está programado para o dia 2/6/2011 no SESC centro, na rua dom José Thomaz, a partir das 19:00 horas. Mas o livro já está na Escariz dos shoppings da cidade.
Quem já leu o novo livro de Saracura diz que é tão bom (senão melhor!) quanto o primeiro.
Vamos à entrevista, dada ao repórter Jorge Henrique, no pátio da rádio Aperipê, no último dia 20/04/2011.

Repórter – De que tratam seus livros?
Saracura -  De Itabaiana, de Sergipe: seu povo, seus costumes, suas crenças, sua alma.

Repórter – Por que só agora, depois de 65 anos  de idade, é que você publicou o primeiro livro. Estava hibernando, era?
Saracura – De uma hora para outra, comecei a ficar assustado com a broquice iminente e a morte próxima. E minha fonte de pesquisa, Florita, minha mãe, está com mais de noventa anos e corre sérios riscos de nos deixar. Tinha que publicar agora ou nunca mais.

Repórter -  E Sobre a hibernação? Você pulou!
Saracura – Aos cinco anos de idade - ou menos - meu avô Totonho Bernardino, me enfeitiçou  com os livros (cordéis). Depois, no seminário, escrevi feito um doido (tenho cadernos cheios de versos, contos, “ensaios”...). Quase viro jornalista profissional aos 20 anos, cheguei a ser Redator-chefe de “A Cruzada”. Mesmo como Analista de Sistemas (minha profissão) sempre tive um romance ao lado de um manual técnico ou de um “list assembler”. Durante a minha vida, a cada dia, escrevi meus dramas, meus júbilos, em cadernos de capa dura, que guardo com desvelo. Em vez de hibernar, estive me condicionando para realizar meu sonho de estudante: contar em livros as estórias que vivi (ou penso que vivi). 

Repórter – Quem financia a publicação de seus livros?
Saracura –  Como não consegui nenhum mecenas, estou exaurindo a pequena poupança que fiz na vida espartana que levei. Deu para os dois que saíram. Como meus filhos já saíram da escola, minha despesa mensal caiu um pouco e, assim, talvez ainda consiga publicar um terceiro livro.

Repórter - E esse terceiro livro, vai ser sobre o quê?
Saracura – O mesmo tema: Sergipe e Itabaiana ou vice-versa, que é, na verdade, o mundo todo espelhado aqui. Conterá histórias pequenas, acompanhando o povo  na sua lida do dia a dia.

Repórter - Por que você não falou ainda de seu livro de crônicas, premiado pela Secretaria de Cultura (Prêmio Mário Cabral)?

Saracura – “Minha querida Aracaju Aflita” (é o nome desse livro) está me deixando aflito. O concurso  foi no início de 2010. O prêmio seria a publicação pela SEGRASE (sem eu gastar um tostão), mas até agora os livros dos premiados “hibernam”. E o inverno pode até não acabar mais, parodiando uma imagem que me ficou de “Cem Anos de Solidão” (Gabriel Garcia Marquez)!   Esse negócio de concurso é coisa para garoto. Para um escritor de 65 anos, é um flagelo.  Posso até morrer sem ver minhas crônicas (que as adoro) sendo lidas pelo povo.

Repórter -  Fale sobre “Meninos que  Queriam ser Padres?
Saracura -  Um texto simples, engraçado, trágico, às vezes até épico. Escrito sem gastar cultura à toa, sem enrolação, sem empolação, sem esnobação.  Fala de conflitos sociais, de estudantes de Aracaju, de Itabaiana, de tiros de sal, de praias mortas, de festas populares e muito mais. Um romance azougado, penso que é. Você tem que conferir.

Repórter -  E quem é essa saracura, que te segue o tempo todo?
Saracura – Talvez seja uma das últimas saracuras de nossos brejos, chamando seus descendentes índios, que se perderam na mixagem do  Brasil colorido.  As lagoas da Terra Vermelha (e do país inteiro)  viraram açudes e os ninhos das saracuras, frigideiras. No dia em que eu for abatido também, espero deixar para os órfãos, pelo menos a voz indelével de uma saracura desgarrada, tentando consolá-los.

Repórter – Que coisa mais complicada! Vamos encerrar por aqui, que o espaço que tenho é pequeno.
Saracura – Bote mais, pelo menos, “três potes e um coco”.

Repórter - Nem mais um coco! Nem pense em colocar o acento!
Saracura – Mas não se esqueçam de ir ao lançamento do meu livro. Repetindo! É no SESC Centro, na Rua Dom José Thomaz, no dia 02/06/2011, a partir das 19:00 horas. Anotem na agenda! Conto com todos!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Meninos que não queriam ser padres - Artigo de jornal


 Publicado no Jornal da Cidade em 20/04/2011

Texto: Clarêncio  Martins Fontes (JORNALISTA)

Fala-me “Saracura”, confidente e amigo solidário, leitor ardente, também bibliofilo, que a sua ampla estante, com suas prateleiras arrumadas, não representa na sua residência um mero ornamento, um ornato, como sóe a acontecer em tantos e tantos domicílios de “eruditos de fachada”, burgueses cultuadores de aparências, que entretanto levam em consideração o que sentenciou alguém ao afirmar que “Uma casa sem livros é como um corpo sem alma” e, a propósito, nunca li “Casa com Escritos”, de Charles Dickens. E Antonio Francisco de Jesus, escritor nato, mas nada prolixo nem rebuscador, piegas, ou prenhe de influencias, não só sabe ler (muitos não sabem, outros tanto não o fazem, embora não sendo semi-alfabetizados ou sofrendo de preguiça mental), dôa dezenas de obras já lidas, incentivando o hábito da leitura, não porque não disponha de espaço vital para os “mestres mudos”, nem por considerar, como a maioria dos apedeutas, os livros acumulados como ”entulho de papel impresso”.

E ao perguntar-lhe o que é mais gostoso: escrever um livro ou vê-lo publicado ele responde que é sem dúvida, escrevê-lo. E, “de quebra”, revela que vai ao encontro do seu texto com o encanto dos enamorados.
 

E talvez ele não saiba, quando na companhia dos meninos que não queriam ser padres, na convivência disciplinada de um Seminário, na sua alma já acenava a promessa do tempo de fazer dele um escritor. E entre a promessa e a sua realização passaram-se os anos de latência, ocupados com outras atividades, mas no seu subconsciente palpitava o afã do exercício do escrever e na teimosia do escrever vive hoje, desde que despertara da juventude vivida no saudoso jornal”A Cruzada” para os passos dados no Jornalismo.

“Saracura”, o bípede, invadido pelo animismo, o irracional e a percepção da curiosa ave palmípede, de grande porte, e pelos sentimentos que bem cultivou como sitiante, na sua querida Itabaiana mergulhado de cabeça no bucolismo dos ecossistemas do agreste, busca no prazer de escrever o prazer de ler do leitor revelando um arguto senso de humor as grandezas e miudezas particulares da vida, esse caleidoscópio em que não cabem os conceitos estreitos do preto no branco, mas as cores múltiplas que se reservam e nos embaralham a vista e o senso.

E confesso, “Saracura” amigo (a) que o mais que me fascina na literatura é a engenharia do texto, e depois a de narrativa, a história. Ai incluída a pesquisa de campo, como nas aventuras e saga narrada em “Os Tabaréus do Sítio Saracura”, e agora, em “Os Meninos que não Queriam ser Padres, sentimos que no autor pulsa a alma do romancista, mas é outro pano-de-fundo, a trama tem urdidura vária, mas deve ser abocanhado com voracidade pelos que não precisam ter “olho de linse” para perceber o texto psicológico, subjetivo, a vivência,  e até alguns pontos bizarros  de uma trilha confreira a matutar na rejeição oblíqua, no viés comportamental anti-escolapsco, de não esposar o sonho da batina.
Sobre o primeiro livro de  “Sara Cura”, eu não saberia dizer se a temática envolvente da sua história romanceada é o amor à ecologia e a determinação espiritual de, num recanto esquecido do Brasil, trabalhar por um mundo mais justo que respeite homens, mulheres, donos de patrimônios, servos da gleba, empregadores, e a natureza em sua exuberante diversidade ou, agora, com a memória desses meninos que não queriam ser padres, o autor  faz um brado sobre uma verdade oculta, e com a singeleza de uma linguagem literária, nos dá o que pensar, até dialeticamente, sobre algumas vertentes que ontem, como hoje, balançam estruturas teológicas de dogmas, liturgia, ritos e discursos religiosos,  com isso parodiando Saracura, de que no mundo do século XXI, expressivamente tecnológico e científico, mecanicista e fugaz, pragmático mas nem sempre racionalista, no sentido estrito e filosófico, legiões de meninos, hordas de estudantes, milhões de crianças, quer no Ocidente, quer no Oriente, estão desestimuladas a seguirem o sacerdócio, a vida eclesial, a aventura missionária, o Pastoreio de almas, o Rabinato, a vida monástica, quer católica quer budista, enquanto até o Islamismo se vê envolto por correntes belicistas e fanatizadas, pugnando por princípios teocráticos...

“Os Meninos que não Queriam ser Padres” tem suas mensagens subliminares, talvez, mas está intrinsecamente ligado à experiência da religiosidade sergipana, e à sua alma  votiva e rebelde... E o autor, nos parece, produziu uma obra quase autobiográfica.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Primeiro pré-lançamento de MENINOS que não queriam ser PADRES e outras informações

Vai ser no dia 14/04/2011, às 16:00 horas,  na RUA DO TURISTA  no centro da Cidade. Inicialmente estava prevista um lançamento de OS TABARÉUS DO SÍTIO SARACURA, que também vai acontecer, junto.

Relação do que ocorreu de divulgação para MENINOS  que não queriam ser PADRES.

1) Em Itabaiana, rádio Itabaiana FM - dia 05/04/2011 -entrevista com o radialista  Roosevelt...]
2) Em Itabaiana, rádio Capital do Agreste, dia 08/04/2011 - Entrevista com Eduardo Abril  - na oportunidade autografei os dois livros para Maria Mendonça, que esgtave lá: Os Tabaréus do Sítio Saracura e Meninos que não queriam ser padres.
3) Em Itabaiana, Rádio Princesa da Serra, dia 08/04/2011 - entrevista com Mário Filho.
4) TV Aperipê - entrevista com Pascoal Maynard, que foi passada nos dias 08/-4 e 09/04 às 19/3:30 horas.

Locais onde há o livro Meninos... à venda:

1) Supermercado Nunes Peixoto em Itabaiana (20 livros);]
3) Banca de Gilson (apenas um livro de mostruário);
4) Josué da deo Laser em Itabaiana (apenas dois livros de mostruário);
5) Escariz (com promessa de ficar na vitrine principal) 50 livros.

sábado, 5 de março de 2011

Andamento da edição do livro

Ontem 'aprovei' o texto final do livro, na gráfica Infographis. Quanto à capa, ainda ficou um pequeno detalhe que só poderei ver na quinta-feira, quando os funcionários retornarem do longo carnaval.  A capa está um pouco ousada, vez que mostra uma foto real de meus colegas de seminário lá nos idos de 1963. Acredito que não melindrarei nenhum, pois não os identifico pelos nomes. Na verdade, a foto aparece ao fundo, com retículas, isto é, nublada. Eu o fiz muito como uma homenagem, pois, poderia colocar uma foto qualquer no lugar.
Finalmente, cheguei a um título instigante, acho! Se um bom  título ajuda a vender um livro, talvez o meu o faça. É a minha impressão, que poderá se demonstrar furada.
Mas que o título tem a ver com a história contada, tem.  Alguns (Arnaldo já até falou) que "queria ser padre, no começo".  Mas muitos outros nunca pensaram nisso, apenas temeram ser, levados pelo dia-a-dia santificante de lá. Até Antônio Saracura, em certo ponto da história, já se sente quase santo. É mole? Mas o próprio Arnaldo, talvez não se comportasse como um piedoso seminarista. Senão, não seria expulso.
Mas voltando ao trabalho de impressão do livro e outras coisas correlatas.
Deve ficar pronto, lá no final do mês de março.
Estou pensando nas seguintes estratégias de divulgação.
Inicialmente, antes de qualquer entrevista, levarei pessoalmente o livro para todas as pessoas que escreveram ou falaram sobre o livro anterior, "Os Tabaréus do Sítio Saracura". Assim, os previlegio, demonstro gratidão, pois acreditaram num livro de um autor desconhecido.
Depois, é que vou cuidar dos lançamentos.
Tenho marcado um evento na rua do Turista, no começo de abril. Acho que levarei o livro para lá. Antes, no dia anterior, tentarei conseguir uma entrevista na rádio do Comércio, quando anunciarei o evento.
Estou pensando em divulgar o meu livro a alguns restaurantes da cidade, como:
São Miguel, do Calumbi em Socorro;
Mãe Gorda;
Casa da Pizza da Luzia;
Mineirão do Camilo.
Espinheiro, de Itabaiana,
(depois vejo outros)

Cada uma dessas divulgações, serão precedidas de divulgação na imprensa e, óbvio, negociação com os respectivos proprietários, tentando aprovação.
Sôbre o lançamento, ainda tenho que pensar um pouco.
Gostaria de fazê-lo no seminário, mas apenas em novembro é que terá a festa dos alunos. De qualquer jeito, devo levar meu livro para este acontecimento, se o reitor aprovar.
Depois escrevo mais...
Aracaju, 05/03/2011 às 09:52

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Primeiros capítulos de "Meninos que nao queriam ser padres"

ANTES DE MAIS NADA


"Meninos que não Queriam ser Padres" é (um romance?) escrito na primeira pessoa e baseia-se na vida estudantil do autor, nos seus “diários de bordo”, enriquecidos com depoimentos de contemporâneos e contaminados com alguma fantasia. Conta a história de um grupo de meninos arrancado da roça e colocado em uma sala de aula (na clausura de um Seminário, em Aracaju), inicialmente guiado por um Deus muito próximo, e depois solto no mundo sem a proteção a que se acostumara. Como Antônio Saracura – o personagem principal – que foi trazido da rude Terra Vermelha, em Itabaiana, quando nem sabia ainda falar a língua dos habitantes da cidade...
A ficção sempre está roubando a frágil realidade do enredo e devolvendo-a mais adiante, para roubá-la de novo. E em algumas situações, roubando também prudentemente os nomes reais dos personagens – atribuindo-lhes pseudônimos – preservando-lhes assim a idoneidade que angariaram. Mas há situações em que os nomes verdadeiros são preservados.
O livro resgata – mesmo com a fantasia dourando as passagens mais áridas – os costumes de uma época (início dos anos sessenta), o dia-a-dia de um tradicional colégio (ainda hoje em plena atividade) quando ensaiava os seus primeiros passos. Até poderia ser um romance histórico de valia, não fosse o pendor romanesco do autor.
Desejamos que a leitura do livro proporcione momentos agradáveis e de muito proveito.



E VIVA ARACAJU!

Cheguei a Aracaju naquele final de manhã de domingo. Fui o primeiro a descer da marinete, pois tenho a natureza agoniada – a bola esquipada, como chamam lá em Terra Vermelha.
De boca aberta de admiração, olhava os velhos casarões da “Rua da Frente”, enquanto me protegia debaixo de uma amendoeira enrugada, até que os companheiros descessem também, certamente ainda tolhidos por outros passageiros apressados. Dez metros adiante, uma imensidão de água sacudia-se, inquieta, engordada pela maré, sobrando na ribanceira baixa. Era o rio Sergipe, o novo conhecido que sabia estar ali, tentando encontrar uma maneira de entrar no oceano, enquanto este o empurrava de volta, num embate surdo de gigantes medindo forças. Um grande saveiro com mastros desnudos balançava-se amarrado num molhe que avançava pelo rio, mais à direita... Senti vontade de chegar mais perto, mas caía uma chuvinha fria, desencorajadora. E os dois colegas já vinham vindo para a proteção da minha amendoeira. O Padre também apareceu, abraçado a uma sacola e, de lá mesmo da porta da marinete, sinalizou nos chamando alto:

– Vamos andando assim mesmo, pois esta chuva não vai parar tão cedo!

Sentia-me engolido pela cidade desconhecida e grande (que nem era assim tão grande ainda), igual ao profeta no ventre da baleia, e segui atrás da batina preta do Padre Artur, como se estivesse deslizando por um túnel, imprensado aos lados por casarões que topavam nas nuvens abaixadas de chumbo e chuva.
Aracaju era impressionante!
E eu estava nela, bloqueado e ainda sem fala, sentindo aquela sensação que muitas vezes ouvira falar em Terra Vermelha, contada por quem a conhecia, vangloriando-se nas rodinhas de fofocas, dramatizando o senso de estupefação que se dizia dominar quem a via pela primeira vez. Naquelas oportunidades, eu não atinava para o significado da recomendação:

– Bote uma pedra na boca, para não dizer besteira demais e, depois, não virar motivo de mangação!

Não trouxera pedra – nem precisaria tê-lo feito.
Sentia dentro da boca, estufando-me as bochechas, calcando a língua para baixo e espremendo o cérebro contra a abóboda do casco, uma pedra grande e bem mais dura do que as que se espalhavam no leito seco do rio Jacaracica, com as quais derrubávamos os oitis maduros de polpa tenra, que sempre ficavam nos galhos mais altos.
Ainda bem que não precisara falar! Apenas seguir o Padre.
Finalmente, Aracaju!
E eu pisando forte nela, parecendo dono.
Meu pai, Zé de Pepedo Saracura, possuía uma grade (banca para venda de farinha e outros cereais) no Mercado Central de Aracaju, para onde vinha todo final de semana.

– Muito melhor do que a pedra fria e disputada do Aribé! – sempre dizia.

Era um espaço seu, garantido, se bem que apenas no sábado e no domingo, pois os verdureiros o invadiam no decorrer da semana. E deixavam um tapete de tomates maduros pisados, difícil de limpar. Mas ele vinha sozinho, saindo do sítio na sexta-feira à noite. E só retornava no final da manhã do domingo, no mesmo caminhão que trouxera as mercadorias e que ficara aguardando os passageiros, estacionado em uma área vizinha. Nós, os filhos, vivíamos adulando-o para viajarmos junto. Mas ele sempre cortava seco:

– Não preciso de ajuda pra vender farinha. Preciso de vocês é no sítio, onde tem muito serviço.

Ir para Aracaju, então, transformara-se numa obsessão, um sonho que cada vez incomodava mais as cabeças dos pequenos tabaréus do sítio Saracura. Eu, de minha parte, passava horas a fio, imaginando como seria esse lugar espetacular. Comparava-o à Grécia do Pavão Misterioso e a outros reinos das histórias de cordel, cantadas pelo meu avô Totonho Bernardino, povoando-o de valentes cavaleiros e princesas encantadas. Mesmo tendo informações diferentes dadas por pessoas que a conheciam, era fácil imaginá-la cheia de palácios e mistérios. Se a moldava na mente, por que fazê-la pequena?
Oliveira era o único irmão que conhecia Aracaju, ou melhor, o Hospital de Cirurgia, onde fora examinar suas pernas que doíam por dentro, querendo estourar. Ficara apenas por duas semanas – esperando o resultado dos exames. E agora reclamava que nunca mais voltara lá. Dizia que fizera amigos importantes, médicos e enfermeiros, que poderiam ser úteis em caso de qualquer doença da família. Talvez nem se lembrassem mais dele, ou então, nem se lembrariam, se não voltasse qualquer dia para dar, pelo menos, um alô ligeiro. Mas meu pai não se comovia com essa interesseira lenga-lenga e limitava-se, quanto muito, a fazer uma promessa 
vaga (ainda bem!):

– Deixa ver...

E eu, como era o mais velho dos irmãos – a exceção de Marinês, que tinha mais quatro anos – e um pouco mais escolado em artimanhas, aproveitava a obsessão que povoava a cabeça dos meus irmãos menores, para lhes pregar peças.
Uma vez, a troco de um favor recebido, prometi que os levaria a Aracaju. Eles, porque queriam demais, nem desconfiaram, no momento, que eu nunca fora lá. Nem tinha força sequer para definir a minha própria ida e, como eles também, morria de vontade de ir. Levei-os ao quintal, onde crescia um grande cajueiro carregado de frutos maduros. Eles reclamaram, achando a estrada errada.

– E Aracaju é por aí, é?

Expliquei que se tratava de um desvio novo, que encurtava o caminho. Ficaram mais intrigados ainda ao me verem subir no cajueiro (“que perda de tempo”!) e, lá do alto, arrancar cajus maduros e gritar para que eles se posicionassem em fila, lá embaixo. Fiz com que cada um aparasse alguns frutos, chamando-os pelo nome:

– Agora você, Jaime! É a sua vez! Cuidado para não deixar cair! Não pode amassar!

Quando todos tinham cumprido o cerimonial hilário, desci manhoso, segurando a custo o riso de mangação. Os meninos olhavam-me intrigados e tendo já certeza de que os fizera de bestas, exigiam explicações sobre aquela palhaçada.

– Vocês não queriam ir para Aracaju? Então! Acabaram de ir “aparar cajus”.

Pularam todos sobre mim, cobrindo-me de tapas e pontapés, fazendo-me fugir para longe.
Mas agora, na capital, eu nem podia ver a cidade direito. Descera da marinete com outros dois meninos – o galego gordo e praciante, Evilázio, e o moreno enferrujado (e de sítio, como eu) Júlio – também candidatos a seminaristas, e mais o vigário de minha cidade. Não entendia por que Evilázio, que me disseram ser filho de um rico fazendeiro da cidade, olhava-me com certo desprezo... Eu sentia!
E, debaixo de chuva, seguimos todos para o Seminário, a pé. O Padre puxava a fila, caminhando ligeiro com sua batina um pouco levantada pela mão prudente, para não deixar sujá-la com respingos de lama. Andava ligeiro. Era de estrutura vigorosa e ainda não tinha quarenta anos de idade. Não parecia ter! E nós três, cada um com sua malinha de couro curtido na cabeça, servindo de guarda-chuva, corríamos atrás para não o perder de vista.
A chuva continuava caindo fina e fria, encharcando tudo, espantando as pessoas. Chuva de verão, restos da forte trovoada da noite anterior, de um distante dezembro de 1958.
Logo estávamos na portaria do velho Seminário, na Rua Dom José Thomaz, 194, espremendo-nos no pequeno recuo que existia mais para proteger a madeira da grande porta trabalhada do que para abrigar quem ali parasse. O Padre Artur calcou o dedo num botão gasto. A água escorria em cachoeira silenciosa pela fachada nua do velho casarão e, como agulhas afiadas, respingava nos meus pés molhados, que não conseguiram um bom lugar no recuo. Depois de cinco minutos insistindo na campainha, a grande porta estremeceu, abrindo-se devagar, fazendo aparecer do lado enxuto um padre novo, vestindo uma alinhada batina preta. Tinha um rosto largo e vermelho, e uma cabeça sobranceira de pessoas superiores. Os cabelos, penteados e escorridos para trás, brilhavam a custo de boa brilhantina. Era o Reitor da casa, mas eu imaginei que fosse o rei daquele lugar. Seus olhos de vidro fixaram-se no grupo molhado, deixando escapar uma incompleta sombra de pena. Mas rapidamente se recompôs e fez-nos entrar. Depois de cumprimentar efusivamente o Padre Artur, estendeu-nos a mão fina, que só seda.

– A bênção, Padre! – balbuciei, beijando-a, quando chegou a minha vez.

– Deus o abençoe e seja bem-vindo ao nosso querido Seminário.

Ao segurar minha mão cheia de calos da enxada e engelhada pelo frio, demorou-se demais, como se a estivesse estudando. Por fim, saindo do pequeno transe, perguntou:

– Como é o seu nome, meu filho?

Não percebi que a pergunta era a mim dirigida. Não a fizera aos colegas que me antecederam. Meu raciocínio ainda não despertara inteiramente do torpor causado pelo choque da
chegada. O Padre Artur, que estava ao lado, bem perto, cutucou-me, resmungando:

– Fale, meu filho!

– Eu, Padre?! – titubeei.

– Você mesmo! E quem haveria de ser? Como se chama? – insistiu o Reitor, que percebera a minha hesitação.

– Sou Antônio.

– Muito bem! Já tem dez anos de idade, Antônio? – continuou.

– Tenho treze! – respondi.

– Trabalhava na roça, não era? Trabalhou demais e esqueceu-se de crescer?

– Foi sim, senhor! – respondi, mecanicamente.